Hoje na capa da Gazeta do Povo uma reportagem muito interessante foi publicada (link) sobre o aumento significativo dos casos de depressão por todo mundo. Realmente é impressionante a quantidade de casos que chegam ao consultório com algum sintoma depressivo ou de ansiedade. É algo fundamental a um bom psicólogo saber identificar o quadro, assim como proceder ao atendimento adequado e atualizado.
Em uma pesquisa realizada em 1995 por Judd L.L. nos EUA a população identificou índices alarmantes sobre o tema. 43% da população pensam na depressão como fraqueza de caráter, 46% relatam que não é um problema de saúde e 33% julgam que não há a necessidade de tratamento. É claro que esta pesquisa precisa ser replicada e atualizada, mas mesmo assim frequentemente escuto no consultório este tipo de preconceito, seja dos próprios pacientes ou de seus amigos e familiares.
Em 2001 a Organização Mundial de Saúde descreveu a Depressão como a segunda principal causa de incapacitação (ambos os sexos de 15 a 44 anos de idade), apenas a AIDS supera a depressão. (Em quinto lugar esta o uso do álcool, em oitavo a esquizofrenia e em nono o transtorno bipolar).
Um episódio depressivo é caracterizado por um grupo de sintomas que são presentes por mais de 15 dias, trazendo prejuízo social (p.ex. dificuldade de trabalhar) e não estão relacionados a doenças anteriores (como hipotireoidismo) ou Luto. Na lista de sintomas abaixo é necessário a presença de cinco itens ou mais sendo que o um e/ou o dois são obrigatórios para o diagnóstico. Estes sintomas são (DSM-IV-TR):
1) humor mais agressivo ou depressivo (agressividade mais comum em crianças e adolescentes)
2) anedonia (perda de prazer em coisas que antes eram tidas como agradáveis).
3) perda ou ganho de peso (significativo [p.ex. 5% do peso em 1 mês] e sem dieta voluntária)
4) sentimento generalizado de culpa
5) pensamentos recorrentes de morte (não necessariamente suicídio. muitos pacientes relatam algo como se eu morresse por uma causa natural seria melhor).
6) dificuldade em dormir ou sono excessivo
7) agitação ou retardo psicomotor (lentificação dos movimentos que podem ser notada por terceiros)
8) cansaço e perda de energia em quase todos os dias
9) dificuldade de concentração e pensamento, ou ainda indecisão quase todos os dias.
Outro tabu sobre o assunto é relacionado com a medicação utilizada para o tratamento da depressão. Antidepressivos NÃO causam dependência química. Nos medicamentos psiquiátricos apenas os indutores de sono (estazolam, flunitrazepam, flurazepam, midazolam, nitrazepam, triazolam) e os ansiolíticos (alprazolam, bromazepam, clobazepam, clorazepato, clordiazepóxido, cloxazolam, diazepam e lorazepam) têm este potencial!
Segundo o clássico livro sobre o tema escrito em 1979 por Aron Beck, a depressão é conceitualizada por uma tríade que faz o paciente considerar a si mesmo, seu futuro e suas experiências como algo negativo. O Primeiro item da tríade relata uma visão negativa que o sujeito tem de si, onde se considera como defeituoso, inadequado, doente, carente, sem valor, indesejável, etc. Ele acredita que não tem substrato necessário para ser feliz um dia.
O segundo item da tríade consiste em uma tendência generalizada do sujeito em interpretar suas experiências atuais como algo negativo. O mundo torna-se exigente, com objetivos impossíveis. Muitas vezes existem crenças aceitas pelo deprimido que podem ser explicadas por formas mais positivas e racionalmente mais plausíveis.
O terceiro item da tríade esta relacionado à visão que o deprimido tem de seu futuro onde invariavelmente há o negativismo como se tudo o que fosse acontecer em longo prazo seria repleto de sofrimento onde as dificuldades permaneceriam constantes. Ele espera o fracasso invariavelmente.
Segundo a OMS, a associação da Terapia Cognitivo-Comportamental com o uso de psicofármacos adequados trazem efeitos mais duradouros no tratamento da depressão.
DICAS CONTRA A DEPRESSÃO
1) Estudos demonstram que pessoas que consomem uma quantidade maior de café (3 xícaras por dia) reduzem a chance do desenvolvimento de um episódio depressivo
2) Estudos relacionam a dosagem baixa de vitamina D com uma incidência maior de depressão. Portanto a exposição diária à luz do dia diminui o quadro depressivo (fototerapia). (Importante tomar cuidados em relação ao sol. o indicado é 15 min antes das 10h da manhã).
3) Importante manter uma alimentação saudável mesmo "sem fome" para evitar o estresse causado pelo aumento do cortisol no organismo. (6 refeições diárias é o indicado pelos nutricionistas)
4) Atividade física facilita no processo de controle do cortisol e ainda libera endorfinas que estão relacionadas ao prazer. Interessante por exemplo realizar uma caminhada diária antes das 10 da manhã ao ar livre (ver item 2)
5) Estabelecer metas pequenas e que podem ser atingidas em curto prazo são interessantes para quebrar a tríade cognitiva da depressão
6) Ter em mente que todos os seres da terra sentem dor é importante. Mas o sofrimento é uma opção. Muitas coisas que nos incomodam não podem ser mudadas então não adianta sofrer, pois não vai alterar a situação. Importante mudar o foco e viver de forma diferente
7) Viver de presente... Não do passado nem do futuro
8) Viver um dia de cada vez com responsabilidade e constância nestas atividades. Dias ruins sempre existem, mas passam...
"O condicionamento se mantém a despeito da consciência" B.F. Skinner