domingo, 22 de janeiro de 2012

Autismo e o DSM-V

Saiu hoje na Folha de São Paulo uma notícia comentando algumas mudanças no manual de diagnóstico de transtornos mentais adotado mundialmente como base de critérios para médicos e psicólogos. Nenhuma atualização significativa deste manual ocorreu por 17 anos e pelo que tudo indica no início de 2013 estas mudanças serão publicadas em uma nova versão, o DSM-V. (Clique aqui para acessar a reportagem na íntegra)

Porém é fundamental a discussão de questões sociais referentes a estas mudanças. Políticas Públicas são adotadas conforme esta base de critérios e muitos que sofrem podem perder auxílio público por não se enquadrarem no diagnóstico. A reportagem da Folha de São Paulo traz dois pontos de vista distintos. Não concordo particularmente com a posição do Dr. Fred Volkmar que afirma que a proposta tem como propósito acabar com a "onda do autismo". Sinceramente não acredito que exista tal onda e mesmo existindo, a contrapartida de tirar o acesso público a serviço de saúde especializado de alguns que sofrem independente do título de doença é injustificável. A questão é que os portadores do diagnóstico que são mais funcionais poderiam ser excluídos nesta mudança.

É importante compartilhar estas informações, pois infelizmente muitos acreditam, inclusive profissionais da saúde, que o transtorno é consequência da ausência do desejo da mãe pelo filho. O que não condiz com a realidade, basta conversar com a mãe destas crianças e observar nos vídeos abaixo.

A nova versão do DSM (ainda não finalizada e sendo pesquisada) traz a união de três diagnósticos (Asperger, Transtorno Invasivo do desenvolvimento e Autismo) em um chamado então de Transtorno do Espectro Autista. A proposta pode ser encontrada neste link (inglês)

Os critérios para o diagnóstico do Autismo e os diagnósticos diferenciais presentes no DSM-IV-TR (última versão publicada do manual) podem ser encontrados neste link

Segue reportagens interessantes sobre autismo/asperger, não sobre a questão diagnóstica, mas sobre o transtorno como um todo.





Em Curitiba o Centro Conviver realiza um trabalho muito interessante sobre o tema. O site está em construção, mas futuramente vale a pena conferir! http://centroconviver.com.br/

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Tourette

O transtorno de tique mais conhecido e mais grave é o Transtorno de Tourette. O tratamento é sintomatológico e procura diminuir a quantidade de tiques no decorrer do dia, tentando diminuir o prejuízo social que causa no indivíduo. Normalmente a doença é apresentada como um tique motor que evolui para um vocálico. A tentativa do indivíduo em evitar este impulso típico do tique traz uma forte questão de comorbidade com sintomas obsessivo-compulsivos. Baixa autoestima, isolamento social obviamente acompanham o caso. A principal forma farmacológica de tratamento para o transtorno é a associação de antipsicóticos (redução de tiques) com antidepressivos (sintomas obsessivo-compulsivos). A terapia cognitiva-comportamental é bastante útil através da técnica de reversão de hábitos, onde o paciente identifica as sensações prévias ao tique e passa a responder de uma forma incompatível com o tique. Assista os vídeos abaixo. 






O diagnóstico realizado pelo DSM-IV-TR é feito pelos critérios 
A - Múltiplos tiques motores e um ou mais tiqes vocais estiveram presentes em algum momento durante a doença, embora não necessariamente ao mesmo tempo (Um tique é um movimento ou vocalização súbita, rápida, recorrente, não-rítmica e estereotipada.) 
B - Os tiques ocorrem muitas vezes ao dia (geralmente em salvas) quase todos os dias ou intermitente durante um período de mais de 1 ano, sendo que durante este período jamais houve uma fase livre de tiques superior a 3 meses consecutivos. 
C - O início dá-se antes da idade de 18 anos. 
D - A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (ex.: estimulantes) ou de uma condição médica geral (ex: encefalite pós-viral ou doença de Huntington) 

A prevalência do transtorno de Tourette é de 4 a 5 casos a cada 10 mil pessoas. Mais comum em crianças (5 a 30 casos por 10 mil pessoas), com início em torno dos 7 anos e com início dos tiques vocálicos aos 11 anos. Três vezes mais comum em meninos.


LINKS INTERESSANTES
http://www.astoc.org.br/source/php/index.php#
http://www.tsa-usa.org/
http://www.scielo.br/pdf/anp/v59n3B/5963.pdf

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Psicólogos e as Drogas: Relação de medo

Com a crescente procura de atendimento psicológico para o tratamento de dependências químicas, julgo necessário iniciar algumas postagens sobre o tema em questão. Muitos psicólogos se recusam a atender essa população pela baixa adesão ao tratamento e pela frustração pessoal em executar um trabalho de qualidade e inúmeras vezes se deparar com um recaída. Este comportamento não é somente observado nos psicólogos, mas na grande maioria dos profissionais da saúde, na política, na população geral. Não irreal, há uma associação clássica da droga com a violência, com a prostituição, com a dificuldade de recuperação, entre outros; o que estigmatiza a droga e o usuário.

Penso particularmente que a principal função dos Psicólogos seria combater estes tabus acreditando no indivíduo sem o uso das drogas, sem observar ele como a personificação da doença, mas como alguém que precisa de acolhimento social procurando auxiliá-lo a recriar sua vida, muitas vezes destruídas pela droga e pelo tabu. Com a produção do conhecimento, é possível demonstrar aos profissionais da saúde, assistentes sociais e afins, que a recuperação é sim possível através do trabalho árduo e esperança na recuperação dia-a-dia.

Com o movimento anti manicomial da década de 70, o governo procura auxiliar os dependentes através dos CAPs AD. A intenção é criar 1 CAPs AD para cada 70.000 habitantes. Em Curitiba, a quantidade de CAPs auxiliaria uma população de aproximadamente 400.000 habitantes porém, contamos com mais de 1.800.000 habitantes. Desta forma as comunidades terapêuticas foram criadas para suprir esta demanda, o que é alvo de muita crítica. Boa parte destas comunidades estão vinculadas a grupos religiosos e é comum observar internamentos de até 9 meses sem a possibilidade de sair do local. Bíblias já foram escritas para o tratamento da dependência química e pouca ciência esta associada a isto.

Como combater? Sem críticas é um começo! Sem estas comunidades milhares de dependentes beirando a morte ficariam sem apoio social. Por outro lado a produção científica fomenta novas instituições, novos tratamentos, novos profissionais interessados em lutar contra as drogas, novas técnicas para evitar recaídas, melhorar a adesão, tornar o tratamento efetivo e permanete. Mas o estigma prevalece atando com o medo a possibilidade de levar saúde a quem precisa. Novamente falamos em educação...

Se Skinner estava certo ao dizer que "o condicionamento se mantém a despeito da consciência", lutamos aqui contra uma consciência estruturada erroneamente pela cultura e seus tabus. Ou seja, muito trabalho para mudar essa realidade!

Links interessantes:

Sobre CAPs e a reforma antimanicomial
Secretaria Anti-Drogas
Notícia Folha de São Paulo sobre criação de nova comunidade terapêutica
Narcóticos Anônimos
Alcoólicos Anônimos
Site Droga Zero